Afogamento

Quando eu olho para a porta

Quando olho através da sala

Não importa o que eu vejo

Minha mente somente se cala

Tenho um tédio forte

eterno

oculto

As vezes entro em desespero

mas meu peito sempre insiste

que não adianta o meu esforço

minha alma não existe.

A vida passa lentamente

mas minha mente nem se atenta

pois os dias são todos os mesmos

e a dormência me acalenta

...

Já não sei mais se isto é dor ou vazio

nem mesmo se isto me angustia

Minha mente perece confusa em meio ao nada...

É difícil explicar

Tudo é muito rápido e devagar

de forma que a cabeça apreende padrões

mas não consegue guardar

Digitando lentamente a mente se perde ao limbo

e quando escrevo sem pensar o limbo descreve à mente

Eu me perco muito

Minha mente já não rima

mas as vezes se ritíma

como uma crise de arritmia

que se apresenta fulminantemente

no peito de um futuro morimbundo

É assim que o tempo passa. Vazio, rápido e sem conteúdo

Algo se envolve em minha garganta, mas nela só há saliva, rapé e abstrações.

As vezes sinto que preciso fugir disto

mas a morte é atraente e me trás sentimento de prazer

prazer do vômito que não sai

da respiração ofegante

da vida sem experiências

da falta de tempo

da dependência escondida

do asco que sinto por esta

Tento me lembrar destes últimos anos e só me vem à mente uma televisão

com imagens inefáveis

conteúdos perdidos...

minha memória é muito curta para o tamanho de minha vida

escrevo olhando para o lado

e quando tenho impressão de que estou prestes a explodir

Eu sinto a calma desesperada voltando novamente

Neste momento é como se eu estivesse prestes a me afogar de novo

Estou me afogando no vazio e logo mais voltarei a sentir mais nada

Como já não sinto agora...

Guardo esta tentativa de poesia como forma de tentar deixar uma marca

com a esperança de que um dia este já não seja mais eu.

...

A vida morre a cada dia

e estou preso a este mundo

onde o corpo envelhece

no passar de um segundo.