E Aí?

Sentado na guia da calçada, bebendo um drink forte. Uma forma elegante de curtir seu próprio inferno, sim, pensava nisso.

A bebida arde no paladar, desce rasgando até o estômago. "Mas ela não passa pelo coração", foi um pensamento espontâneo, acompanhado das sensações da embriaguez.

Sentia-se infeliz, talvez não fosse infelicidade, sentar naquela guia no meio da cidade vazia o deixava de alguma forma feliz, era difícil entender o que estava atacando ele por dentro, e agora, já um pouco ébrio, era quase impossível, aquele não era seu primeiro copo.

Ficou olhando os carros passarem. As pessoas fecharem suas lojas, clínicas e comércios. Viu o cair lento da noite e viu o bar em suas costas ser preenchido por todo tipo de gente estranha. Era um refúgio para todos eles, os estranhos, todos os que não tinham um lugar entre os felizes, os bem sucedidos. Apesar disso, não entrou no refúgio. A guia e a solidão lhe serviam.

Essa história não terá garotas que oferecem cerveja, ou que agarram lá embaixo e roubam beijos, ou se oferecem. Não. Hoje tinha a certeza dos que andam sós.

Não se importava em beber sozinho.

Pensava em sua vida e tinha tantas escolhas a fazer que preferia não escolher. Mas precisava escolher. Escolhas eram todas as razões que levaram aqueles rapazes que estão jogando sinuca pro bar, escolhas levaram aquelas garotas que disfarçam solidão e inaptidão com risos e vodka pra lá.

A música era um rock pesado, não mais pesado que o peso das escolhas, mas ainda sim pesado demais. "Será que se sentem mais autoconfiantes?" perguntou mentalmente para si mesmo. Não precisava disso. Gostava mais do rock alternativo, suave. Não gostava apenas do rock (alias, detestava a palavra "rock"). Tinha pavor de quando era chamado de "rockeiro", rótulos e títulos o limitavam.

Pra ser sincero, sua companhia predileta era o blues.

Pensava em duas pessoas que não via há tempos e não sabia o que pensar a respeito. Talvez sentisse saudade mas não conseguiria entender isso mesmo que quisesse, a essa altura, poucas coisas fazem sentido.

Levantou-se com dificuldade, acertou a conta com o dono do bar. Andou lento para casa, procurando manter o equilíbrio, tropeçava pelo caminho. Quando chegou, sua gatinha pulou da cadeira onde dormia e trançou-se em sua perna. Fez-lhe um afago e sentou-se no sofá. Ela tão prontamente pulou em seu colo e ronronou.

"E aí?"

Agora sentiu-se menos triste. Encontrou uma pequena felicidade no meio do inferno. Podia aguentar a saudade... Sempre pôde.

Vinícius Risério Custódio
Enviado por Vinícius Risério Custódio em 23/07/2014
Reeditado em 30/04/2016
Código do texto: T4893620
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