Armanni

Com vestido de amarrar nas costas,

E cabelo impecavelmente arrumado,

A pobre menina de família observa por trás da cortina a vida passar.

Não é dona de si própria.

Por viver em tempos de antigamente.

Não conhece os seus melhores sabores e aromas,

Por não poder dar um passo fora da linha.

Debruçada na sacada, espera o grande amor passar.

Talvez ele apareça, talvez não possa.

Será que ficará prisioneira pela vida toda?

Parada, à espera da felicidade?

Dona de tristeza nos olhos,

Toda ela contida nas lágrimas sufocadas no enorme travesseiro

É filha da austeridade,

Sequestrada de si mesma.

Não pode cogitar qualquer fuga.

Passa os dias a fazer as vontades dos outros.

E nem pentear os próprios cabelos pode.

Tem alguém que lhe faça companhia e as vontades.

Mas, as suas próprias vontades ficam debaixo do cobertor.

Sabe que não pode esperar demais dos outros.

E não espera.

Nem de si mesma.

Não quer alimentar falsas esperanças.

Não quer e não pode.

Talvez um dia possa.

Numa próxima vida.

Quando não tiver tanta austeridade lhe rodeando.

Quando não sentir as amarras lhe prendendo a vida.

Hoje, apenas observa...

Observa e espera.

O desenrolar dos momentos.

O viver dos sentimentos, contidos.

O desembramar de um viver pela metade.

Um dia talvez transpasse tudo isso.

Pela força do amor.

Pela fé em ir além.

Pela coragem em expressar-se.

Hoje, apenas observa.

Sem forças para lutar contra.

Sem querer contrariar quem quer que seja.

Observa e reza.

Quem sabe Deus a escute.

E a salve.

De seus devaneios pecaminosos.

De seus delírios quase enlouquecedores.

Quem sabe...

Não sabe!

Só espera e observa.

Por trás da cortina.

Por entre os quereres.

Por um quase viver pelos outros.

Assim.

Sem enfeites, sem observações.

Sem nada além do cansaço.

Sem mais...

HELOISA ARMANNI
Enviado por HELOISA ARMANNI em 02/08/2014
Código do texto: T4906584
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