Poema de Ante-Véspera
Da caminhada sem mãos dadas
me atento ao pássaro no céu
Aquele sem ninho
que despenca das alturas
sem beijar o chão,
a solidão rasante.
Noto o cansaço das asas,
o bico agônico e seco
de quem nunca pousa e descansa
O pássaro embriagado
de tanto céu azul,
de tanta nuvem torta
Pra onde ele vai agora?
Se não há destino nem volta
Não há caminho
Pra fugir, ir embora... Pra onde?
O azul anoitece,
a escuridão apavora.
Pássaro sem ninho,
que pena, que rapina,
que vasta incerteza
Deito-me pra assistir
do solo, o solo trajeto
Frio e rasante é o medo
(que medo)
O céu parece um espelho