primeira nota de adeus
não mais ousarei dispor da metafísica para divagar sobre porquês inúteis
preciso de um exorcismo que me arranque da alma
a mania aristotélica de questionar o amor
onde uma palavra nunca é só uma palavra
onde um olhar nunca é só um olhar
onde o adeus nunca é permanente
porque, afinal, o que é adeus?
do que ele é feito?
de beijos na testa
abraços reconfortantes
ou de choros abafados no travesseiro
e um silêncio estratosférico
que deixa todos os outros sons insuportáveis?
é chegada a hora de partir
quando o coração, numa redoma de vidro
guardada no teu porta-malas
está perto de se partir em milhões de pedaços
enquanto você corre à 180km/h
e sussurra: hello darkness, my old friend
i've come to talk with you again
e eu não tenho medo de nunca mais me reconstruir
só tenho medo de que os cacos te atinjam
e você não consiga voltar pra casa
e se banhar, das minhas lágrimas que
abastecem teu chuveiro
e sair pra buscar alguém importante
enquanto eu fico inerte sobre a cama
e sussurro: your love will be
safe with me
(não importa como seja o adeus)