Meu próprio exílio

Incautos murmúrios de luz

Invadem a noturna obscuridade

Do silêncio,

Despidos de lucidez

E de sólidas correntes rompidos

Em naus, como flocos nos azuis

Que - na imensidão do tempo -

Cortam as plácidas

Gravuras do espaço de ontem.

Sussurros de cálida bruma.

Velejantes ditongos,

Aros negros maltrapilhos

De vida, longos umbrais

A expor janelas de fuga,

Dentro dos olhos baços

Um espelho que se abre para outras

Divagações, talvez aquarelas.

O silêncio se dilui

Entre quatro paredes mal pintadas

E cobertas de retratos saudosos,

Amadas faces cultivadas

No peito, no canto

De uma cicatriz doída;

A dor, revivida pela música,

Sempre a melodia em concertos

De memória - só por quês?

E as madrugadas, em cada

Finda noite insone,

Consomem os restos do corpo

Embebido de mágoas,

Retalhado pela indiferença

E a ausência de outro corpo.

Lá fora, a melancolia

Dos pardais no arvoredo.

Dentro da alma vazia,

A desventura do poeta:

Que tão cedo perdeu a ventura

Desse ingrato viver.

(Assim era eu antes de conhecer Jesus.)

Maurício Apolinário
Enviado por Maurício Apolinário em 04/06/2007
Código do texto: T513134
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.