O Dom supremo

Tanta beleza ardente reverbera

Pela alameda dos carnais imperios

Na alegria louca dos adulterios

Onde a volupia redentora erra.

Temos gozado o amor em liberdade

E infrigido o sacro juramento

e acumulado, momento após momento,

Um grande mar de gozos a vontade.

Nossos conjugues, mais que corneados,

Nossas reputaçoes sem um senão,

Nossa virtude, perfeita ilusão,

Nossos amores contudo bem amados.

E somos corretissimos, juramos

De pe junto ante nossos rebentos,

Dum gosto errante não abdicamos

Ebrios de vida, sofregos e sedentos.

respeitamos as leis e os costumes

Na roda da engrenagem social

Não distinguimos o bem do mal

Muito menos perolas de estrumes.

Tudo é permitido apesar das leis

e, vaidosos não raro sonhamos,

Distender nossos dourados ramos

Lá onde tudo alcançam os reis.

como o limite estreito nos tortura.

Gozamos tudo e somos infelizes

As mulheres quase meretrizes

Os homens materia rude e impura.

A vingança alegremente adoramos

O odio nos aquece noite e dia

Avançando nos castelos da boemia

E o diabo com vantagens abraçamos.

Que é a lei? de que nos serve?

nossa vida è um breve instante

A beleza nos sorri aliciante

Esgotamos, patifes, nossa verve.

Na cela do egoismo confinados

Na prisão, sob aspera tutela,

Abençoamos o poderio daquela

Gente sobeja e livre nos pecados.

A liberdade é nosso bem supremo

Amar, na terra transitoria,

Amar no tempo o lance extremo

E morrer anonimo e sem outra gloria.