UMA PLEBEIA DESONRA A COROA DO REI (Treze glórias convertidas em pragas)
Protegi-te dos teus medos,
Criei sombras pra te cobrir,
Cavei poços, desbastei caminhos,
Plantei um pomar só para ti.
Te conduzi em segurança
Rumo às melhores vinhas,
Todas as minhas videiras
Te acolheram.
Armazenei o melhor vinho,
Semeei a melhor semente,
Te dei Odaliscas lindas,
Só para te servir.
Os magos me ajudavam
A desvendar os teus mistérios,
Fiz tudo para te ver feliz.
O teu corpo, vesti com linho fino.
O melhor Spala contratei,
Ao som de lindas melodias,
Eu te levei a dormir.
Mas a tua voz era a minha flauta.
À tua volta, a natureza parecia
Obedecer os teus caprichos.
Te amei como um pastor
Ama cada uma de suas ovelhas.
Todos os meus súditos
Te reverenciavam.
O brilho do meu cajado,
Impunha-lhes à distância.
Do mundo plebeu, serviçal,
Do nicho imundo, impuro,
Paguei o maior resgate,
Foste sempre a pérola perdida.
Fiz-me artesão, oleiro,
Usei o esquadro, levantei
O prumo, tudo para te medir,
Fazer de ti, o esteio do meu castelo.
A história marca o calendário
Com dias de sangue,
Foi assim que fizeste do reino
Encantado que sonhei contigo.
Nem mesmo um escravo pequeno,
Foi altivo em me desafiar.
Você fez pacto com as trevas.
Hoje toda minha Fortaleza está em ruínas.
Mesclei com amor,
O sangue dos meus ancestrais,
Por fim, manchaste a coroa,
Traíste a minha aliança, rasgaste o selo.
Agora andará descalça,
Com a fronte descoberta,
Sem o vinho, sem o meu amor,
De volta ao mundo vil, teu berço por direito.
Pedro Matos