O RUMO DAS ESTRELAS
Eu tenho que seguir,
mesmo sem saber onde ir,
por entre espinhos,
eu tenho que seguir.
Se um dia a vida fugir de mim,
deixando-me à margem do caminho,
ainda assim, terei de seguir,
sem deixar-me cair, sem desiludir-me.
Eu sei que meus caminhos existem,
conheço as tempestades, o frio,
o fogo debaixo dos meus pés,
o esterco humano que terei de pisar.
Se na jornada eu encontrar flores,
apanharei todas,darei ao menino,
talvez possa vendê-las, talvez
dê para sua mãe, talvez seja feliz.
Eu andarei em ruas retas, sem esquinas,
sem pregos, sem batentes,
sem esgotos, sem estacas,
sem portas, sem cancelas.
Se outro homem me seguir,
terei que pisar em seu esterco,
ninguém consegue fugir do homem,
ele está em todo lugar.
Eu sei que as estrelas serão o meu guia,
derramando sonhos coloridos,
na minha cabeça orvalhada, fria,
fugindo dos homens.
Se as lembranças me sufocarem,
se a mordaça da ingratidão
me visitar, talvez o suicídio
da memória seja um bem.
Eu dormirei numa pedra lisa,
limada, terei sonhos ecoando
nas pedras, construções sendo
feitas por pedaços de mim.
Se ainda assim, me perseguirem,
farei da minha voz um eco estridente,
apavorante, expulsando os traidores,
longe da estaca que crucifica.
Eu preciso fugir, não de mim,
fugir da falsa e vã filosofia,
encontrar uma razão,
voando em sonhos desconhecidos.
Pedro Matos