Assassinato da Poesia
Quis muito matar a poesia
e destinar ao inferno todos os versos de amor.
Sorrir amarelo para o desastre
tão natural nas belezas disfarçadas.
Queria muito atacar com ódio essas pinturas
que tanto enganam o trivial olhar,
que massacram as vontades com invenções
e que nos lançam em desertos flamejantes,
impiedosos.
Queria muita coisa.
Porém, no final, só me afoguei
num copo de vinho barato.
fumando um cigarro emprestado
de um mendigo qualquer.
Olhei por algumas horas o céu cintilado
de constelações que nunca saberei o nome
e antes de fechar os olhos
só imaginava como seria bom ser o assassino das poesias,
fugindo para outras galáxias,
deixando toda essa podridão
de perfeições criadas, de versos rimados
de notas bem postas para enganar nossos sonhos,
surrar nossos desejos
e afogar os gritos felizes.
Quis muito matar a poesia,
mas só consegui matar o poeta,
afogado nas lágrimas e nos soluços,
anestesiado com bebidas,
desmaiado sobre um meio-fio,
abraçado às suas saudades,
seus medos e sua solidões.