Assassinato da Poesia

Quis muito matar a poesia

e destinar ao inferno todos os versos de amor.

Sorrir amarelo para o desastre

tão natural nas belezas disfarçadas.

Queria muito atacar com ódio essas pinturas

que tanto enganam o trivial olhar,

que massacram as vontades com invenções

e que nos lançam em desertos flamejantes,

impiedosos.

Queria muita coisa.

Porém, no final, só me afoguei

num copo de vinho barato.

fumando um cigarro emprestado

de um mendigo qualquer.

Olhei por algumas horas o céu cintilado

de constelações que nunca saberei o nome

e antes de fechar os olhos

só imaginava como seria bom ser o assassino das poesias,

fugindo para outras galáxias,

deixando toda essa podridão

de perfeições criadas, de versos rimados

de notas bem postas para enganar nossos sonhos,

surrar nossos desejos

e afogar os gritos felizes.

Quis muito matar a poesia,

mas só consegui matar o poeta,

afogado nas lágrimas e nos soluços,

anestesiado com bebidas,

desmaiado sobre um meio-fio,

abraçado às suas saudades,

seus medos e sua solidões.

Renato W Lima
Enviado por Renato W Lima em 05/06/2015
Código do texto: T5267447
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