Olhares Desertos
No deserto de muitos olhares
Procurei águas calmas
Estendi minhas mãos para o céu
Joguei meu coração ao léu
E andei na areia fervente, descalça.
Sofri muitas perdas e danos
Queimei meu corpo e perdi o tato
Descobri que sentimentos falham
E me liguei somente aos fatos
Devolvi minha infância perdida
Em braços ternos que não existem mais
Pois os abraços puros e o olhar infantil
Que tanto sonhei,
Não retornarão jamais.
Parei neste mundo descolorido e desencontrado
Com mil rostos por todos os lados
Perguntando o por que de eu ser assim.
Respondo que é por que amo tanto, mas tanto...
...Que deixei de lado o outro, e amo somente a mim!
Meus olhos se entristecem
Quando refletem no espelho de outro olhar
Me deparo com seus baús sem tesouro
Então, ali fico perdida em meio ao calor da multidão
(A cada passo que antecede a aproximação)
Quanto mais eu caminho tenho a certeza
Que em mim deveria pulsar somente a voz da razão.
Os olhares demonstram frieza
Todo pensamento amoroso foi em vão.
Sozinha, eu sigo perseguindo até a morte
A perfeição,
a cura, a verdade
E a sorte.
A sorte de poder encontrar no corpo do outro
A pureza do que se é
Fazendo o que o coração manda
Não o que o corpo quer.
Congelantes olhares desertos
Despertam minha ira e descrença
“O coração é o todo do corpo,
e o corpo não faz diferença.”
Destino incerto de linhas sinuosas e desregradas
O corpo do homem é templo sagrado
Assim, ao menos deveria ser.
Se o homem o usa para abrigar o coração
Tesouro mais importante,
E não cuida dele
Coração nem deve ter...!