ESPÓLIOS DA SOCIEDADE
Dividi o pão com os cães,
amigos fiéis na desventura
do abandono.
Dormi no abrigo dos desvalidos,
dos bêbados, dos alucinados
incompreendidos pelo poder.
Dividi o lençol, a cama,
mirei o farol da noite,
adormeci no desengano.
Ouvi gritos, lamentos,
choro de almas expulsas
do clero e da da família.
Na sociedade dos bichos
fomos sempre cães,
seres famintos e sobreviventes,
casta chicoteada junto às portas
talhadas dos castelos.
Ganhamos as praças, as calçadas;
encenamos a vida
na crua realidade dos cães,
descrentes de qualquer paraíso.
...
Pedro Matos