ESPÓLIOS DA SOCIEDADE

Dividi o pão com os cães,

amigos fiéis na desventura

do abandono.

Dormi no abrigo dos desvalidos,

dos bêbados, dos alucinados

incompreendidos pelo poder.

Dividi o lençol, a cama,

mirei o farol da noite,

adormeci no desengano.

Ouvi gritos, lamentos,

choro de almas expulsas

do clero e da da família.

Na sociedade dos bichos

fomos sempre cães,

seres famintos e sobreviventes,

casta chicoteada junto às portas

talhadas dos castelos.

Ganhamos as praças, as calçadas;

encenamos a vida

na crua realidade dos cães,

descrentes de qualquer paraíso.

...

Pedro Matos

Pedro Simao Rocha Matos
Enviado por Pedro Simao Rocha Matos em 09/10/2015
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