MAMÃE

Aqui estou...

juntando os meus ontens,

contando os meus antes de ontens;

somando meses e anos.

Encontro um total de dezessete anos.

E conto e reconto.

Não há dúvida, minha mãe.

São exatamente dezessete anos.

Dezessete anos de remorso;

Dezessete anos que vivo

remoendo um arrependimento.

Arrependido por ter entregue

ao vício de beber

vinte anos da minha existência;

os mais belos do meu viver.

A minha juventude, minha mãe.

E na obscuridade

destes vinte anos

encontro fatos arrepiantes.

Desempregado porque o emprego

tolhia a minha liberdade.

A liberdade de viver ébrio.

Quanta estupidez! Minha mãe! Ó quanta!

Não prossegui nos estudos

porque estes me impediam.

Impediam-me de viver bêbado.

Quanta estupidez! Minha mãe! Ó quanta!

Não conheço os nossos rios,

porque um deles

ameaçou-me afogamento;

preferi viver alcoolizado.

Quanta estupidez! Minha mãe! Ó quanta!

Senti-me a ovelha negra

do meu rebanho

e dele me separei.

Quanta estupidez! Minha mãe! Ó quanta!

De estupidez em estupidez

de beber e perder

é que perdi o vício de beber,

a alegria de viver.

Ataliba Campos Lima

14/05/95

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Ataliba
Enviado por Ataliba em 06/09/2007
Reeditado em 24/11/2007
Código do texto: T641271