Mosaico

Meus cabelos no espelho, tão desgrenhados,

com voltas infinitas pra lugar nenhum,

se espreguiçam grisalhos na manhã.

A manhã de quinta, como a de sábado,

me mostra a mesma sobrancelha, espessa,

na cara desse homem comum.

Esse rosto tão assíduo a princípio é pálido,

fantasmagórico, e de súbito vejo um vinco,

a imperfeição passageira que um dia chega e fica.

Onde ele mora enquanto isso?

A rotina já inunda as horas, inodora e sem gosto

usa relógio nos dois braços

Meu rosto ainda não saiu do mosaico,

com as linhas se ajeitando a esmo,

bocejantes e prolíferas

O dia-a-dia não segura de manter

todas as coisas e faces.

Ricco Salles
Enviado por Ricco Salles em 19/08/2018
Código do texto: T6423880
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