DESLINDE DE UM POETA SOLITÁRIO
Em cada coração uma revolta querida,
não chore por mim,
mas entenda o meu sofrimento,
pois já estou cansado de tentar
e tudo em vão,
até o nosso amor.
Tudo que lhe falei é ainda tudo que procurei
e foi inútil toda a minha luta
todos os meus anseios.
Eu partirei, querida,
porque no meu coração impera
a revolta dolorosa e triste,
porque no meu coração só existe
a insatisfação, o tédio,
a amargura infinita e secular.
Não chore por mim, querida
porque eu sou apenas a tristeza
eu sou apenas o poeta infeliz,
que bem conheces
e talvez tenhas sofrido um pouco com ele.
Todas as minhas juras de amor
foram sinceras,
foram o que eu podia e queria
te oferecer.
Tudo o que eu te falei foi verdade,
mas a vida com os seus dissabores
transforma as coisas
e as grandes histórias.
Terá havido em toda a história
uma amizade como a nossa?
Talvez não!
E porque ela foi e é tão grande
surgiu em minha frente
um mundo de dificuldades.
Nesta hora querida,
os olhos são como as fontes indecisas,
que vertem água ao amanhecer
e à tarde secam.
Assim sou eu na hora presente,
na mesa triste de um bar,
onde tenho o pensamento
voltado só para ti
e onde procuro esquecer
a vontade de lutar pela vida.
Estas são as minhas últimas palavras,
pois já não suporto o que tenho
suportado em toda a minha vida.
Estou bebendo porque quero
realizar esta vontade antiga
que é, dar cabo a própria vida.
Não deixo saudades.
Não deixo dívidas morais,
e, por isso posso partir para sempre.
Posso deixar de existir
e sempre pude.
Gilberto
Autor: Gilberto Pires da Cruz - Faleceu aos 33 anos de idade.