DESLINDE DE UM POETA SOLITÁRIO

Em cada coração uma revolta querida,

não chore por mim,

mas entenda o meu sofrimento,

pois já estou cansado de tentar

e tudo em vão,

até o nosso amor.

Tudo que lhe falei é ainda tudo que procurei

e foi inútil toda a minha luta

todos os meus anseios.

Eu partirei, querida,

porque no meu coração impera

a revolta dolorosa e triste,

porque no meu coração só existe

a insatisfação, o tédio,

a amargura infinita e secular.

Não chore por mim, querida

porque eu sou apenas a tristeza

eu sou apenas o poeta infeliz,

que bem conheces

e talvez tenhas sofrido um pouco com ele.

Todas as minhas juras de amor

foram sinceras,

foram o que eu podia e queria

te oferecer.

Tudo o que eu te falei foi verdade,

mas a vida com os seus dissabores

transforma as coisas

e as grandes histórias.

Terá havido em toda a história

uma amizade como a nossa?

Talvez não!

E porque ela foi e é tão grande

surgiu em minha frente

um mundo de dificuldades.

Nesta hora querida,

os olhos são como as fontes indecisas,

que vertem água ao amanhecer

e à tarde secam.

Assim sou eu na hora presente,

na mesa triste de um bar,

onde tenho o pensamento

voltado só para ti

e onde procuro esquecer

a vontade de lutar pela vida.

Estas são as minhas últimas palavras,

pois já não suporto o que tenho

suportado em toda a minha vida.

Estou bebendo porque quero

realizar esta vontade antiga

que é, dar cabo a própria vida.

Não deixo saudades.

Não deixo dívidas morais,

e, por isso posso partir para sempre.

Posso deixar de existir

e sempre pude.

Gilberto

Autor: Gilberto Pires da Cruz - Faleceu aos 33 anos de idade.

GILBERTO PIRES DA CRUZ
Enviado por Zilmar Pires em 01/12/2018
Reeditado em 14/12/2018
Código do texto: T6516409
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