CARTA DA MÃE CEGA
CARTA DA MÃE CEGA
Filho, é com tanta alegria que te escrevo;
Hoje me lembro do dia em que voaste feito corvo;
Por saber que não seria igual aquele povo;
Frágil como o ovo, assim citava o seu avo;
Ouvi que já casaste e tens os seus rebentos favoritos;
E que enviaste as fotos dos seus filhos que invocas de gostosos;
Porém, jamais pude ver os seus filhos que narram serem maravilhosos;
Posto que, perde completamente os olhos;
Tentei ti dizer o que intercorreu;
Todavia, tornou-se impossível porque você desapareceu;
Entre os encantos e a amarguras some o céu;
Nos meus braços, vi o seu pai indo embora e nunca mais apareceu;
Filho, sei que não mereço o seu abraço;
Muito menos do seu carinho e do seu amaço;
Desde que foste labutar jamais redigiu uma palavra de apreço;
Passei momentos lodosos, de gritos de fome, e simplesmente ignoraste;
Filho, eu que nos seus olhares sou uma feiticeira;
Essas são as últimas minhas palavras que te digo agora;
Se não fores a ver mais a minha carta porque desaparece da terra;
Já sou cega e o meu corpo já não suporta a minha alma morta
O tempo não perdoa, e a velhice ouve impugnações dos Céus;
Os olhares submergem-se aos oceanos e vagam nas escrituras de Deus;
Meus pensamentos presos sacrificam-se em trazer lembranças duras em sonhos
E o coração mogoado diz adeus filho e abraço da sua mãe cadáver por seus desapegos.
De: Poeta Orriba P.O