CARTA DA MÃE CEGA

CARTA DA MÃE CEGA

Filho, é com tanta alegria que te escrevo;

Hoje me lembro do dia em que voaste feito corvo;

Por saber que não seria igual aquele povo;

Frágil como o ovo, assim citava o seu avo;

Ouvi que já casaste e tens os seus rebentos favoritos;

E que enviaste as fotos dos seus filhos que invocas de gostosos;

Porém, jamais pude ver os seus filhos que narram serem maravilhosos;

Posto que, perde completamente os olhos;

Tentei ti dizer o que intercorreu;

Todavia, tornou-se impossível porque você desapareceu;

Entre os encantos e a amarguras some o céu;

Nos meus braços, vi o seu pai indo embora e nunca mais apareceu;

Filho, sei que não mereço o seu abraço;

Muito menos do seu carinho e do seu amaço;

Desde que foste labutar jamais redigiu uma palavra de apreço;

Passei momentos lodosos, de gritos de fome, e simplesmente ignoraste;

Filho, eu que nos seus olhares sou uma feiticeira;

Essas são as últimas minhas palavras que te digo agora;

Se não fores a ver mais a minha carta porque desaparece da terra;

Já sou cega e o meu corpo já não suporta a minha alma morta

O tempo não perdoa, e a velhice ouve impugnações dos Céus;

Os olhares submergem-se aos oceanos e vagam nas escrituras de Deus;

Meus pensamentos presos sacrificam-se em trazer lembranças duras em sonhos

E o coração mogoado diz adeus filho e abraço da sua mãe cadáver por seus desapegos.

De: Poeta Orriba P.O

Poeta Orriba
Enviado por Poeta Orriba em 10/03/2019
Código do texto: T6594209
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