SIMPLESMENTE EU E MEU EU
Já se faz madrugada
Ando a passos tímidos
O chão é aquele que eu piso com sublime prudência
A rua despida de pessoas
E os mais discretos ruídos propõem ao meu ouvido que os ouça
A escuridão me expõe uma luz fulgurante
Cães vadios parecem querer me expulsar
Deveras estou fora de meu habitat
Rumores passados me acolhem
Tal qual uma folha seca ao vento
A angústia que agora adotara minh´alma
Perturba este coração ambíguo
Estou num mar revolto
Minha consciência faz-me ir aonde quer que queira
Não sei onde ancorar
Nem sei onde estou
Não existo
Sobrevivo entre os mais animais homens
Ou talvez entre os homens mais animais
Falta ao racional mais razão, mais raciocínio
Falta ao homem mais humanidade
Ergo a voz
Mas ela insiste em apenas sussurrar
Sinto o pranto irrigar minha face que antes era exultante
Não sei por qual razão lamento
Talvez de vergonha de não poder fazer nada
A miséria dos muitos
A riqueza de uns poucos
A singeleza da natureza
O contraste com a natureza grosseira do homem
Falta algo
Falta saber que todo corpo é dotado de alma
E que toda alma almeja algo
Falta explicação pra vida
Falta explicação pra morte
Falta se deixar viver
Falta chegar em casa
Abrir a ruidosa porta do quarto vazio
Não deixar que a cama me roube o sono
E dormir...
Voltar ao mundo após este surto de consciência