DEPOIS DA CHUVA

Depois da chuva você voltou,

ainda com olhos de piedade,

com o cheiro da murcha flor,

Já quase afogada de saudades.

Depois da chuva, se não me acusa,

já faz lembrar seus olhos de raios.

Trovoadas das palavras expulsas,

Cruas, urgentemente, sem ensaios.

Depois da chuva, calamidade

que apagou a brisa de seu hálito,

Arrancou as raízes da vontade,

Afogou em mim o que era cálido.

Agora lá dentro guardo em mim

lágrimas presas num frasco roto,

lembranças que viviam a cair,

espero um dia apagar do meu rosto

Então, sinto-me como represa

a transborda sempre para os rios,

que partem vadio na correnteza,

levando o mundo que foi retido.

Naldo Coutinho
Enviado por Naldo Coutinho em 04/11/2005
Reeditado em 22/05/2006
Código do texto: T67129