o poeta recolhe as palavras

beija o amanhecer

uma tão frágil luz

como se a manhã

despertasse com frio

puxando as cobertas sobre si

há todo um futuro lá fora

entre as nuvens

e o tímido sol

mas o poeta recusa a palavra

que possa retratar

a vertigem

de dias obscuros

queda-se em oração

a algum fantasma

ou algum deus que desate

as angústias e ruínas

de uma obtusa humanidade

olhos fixos no céu aguarda

a argumentação do divino

a manhã já vai a meio

e só lhe acomete uma lágrima

somente isso

uma lágrima

a sustentar o mundo

Helenice Priedols