Quem era Lídia?

Você pode queimar bem mais que a mão

ao defender paixões desiludidas.

A vida não perdoa ninguém.

Não é generosa.

E tudo o que dá é apenas

por obrigação de seu ofício.

A natureza, imponente em seu trono

de nuvem e indiferença,

é apenas régua imparcial.

Outro dia vi Lídia e me perguntei quem era ela.

Ela também se perguntou quem era eu.

Sim, não mudamos,

mas não somos os mesmos.

Perdemos mais do que prometemos

aguentar perder.

Recebemos o castigo dos castigos.

Seu rosto, antes quase angelical

não fosse seu olhar de pantera acuada,

mostrava as marcas do caminho:

as cercas enramadas

que seu coração a fez transpor.

Havia dor em seu olhar. E seu aceno a mim

deixou claro que neste mundo,

nesta merda de mundo,

viemos como visitas indesejadas

apenas para sofrer, amar, perder e morrer.

Acenei de volta e levantei a mão

ao primeiro ônibus que apontou na curva.

Ficar ali poderia exigir algo

que não estava disposto a dar ou perder.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 11/04/2020
Código do texto: T6913800
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