Estátuas de Tédio

Aprisiono o grito que afirma a ferida;

Grito que agride

Os alaúdes em silêncio,

Na escuridão

Onde ensimesmado, mergulho...

Espectros dançam ao som dos lábios;

Música agonizante

Da mais triste musa,

Em escalas de delírio e ferrugem.

O cérebro em febre

Abre abismos

Nos territórios onde a nudez dos deuses

Mostra fragilidade.

A consciência

Mergulha no espírito

Onde lágrimas chovem

No árido solo do coração.

As cicatrizes calam feridas

Fecham

Com pele, a ausência em fogo;

O mistério da morte exibe os dentes:

Nódoas no sorriso.

Em mim peca a carne,

Memória, que o amor subverte.

Cinzel de sombra

Esculpindo o granito da espera.

Estatuas de tédio

Desafiando a amplidão da eternidade

Com a estreiteza dum sopro.

Luis Felipe Saratt
Enviado por Luis Felipe Saratt em 12/11/2007
Reeditado em 05/10/2008
Código do texto: T734507