As terras de Orfeu

Canto III

Viajei nas loucuras.

Pisei nos cosmos dos rostos.

As teogonias descrevem-me:

Lusco-fusco de corpo,

Crepúsculo dos vícios,

Alvorecer dos homens.

Nas terras que andei,

Odiei aquelas que não criei.

Terras cujos confins vem

De outras teogonias.

Teogonias mesquinhas e rasteiras.

Teogonias que criam Canaãs e Babéis.

Canaãs que construí, reergui e destruí.

Babéis que ergui, alucinei e derrubei.

Nas Babéis, na língua de minha lira,

Deus com seu maior pecado:

O seu amor pelos homens;

Veio, com seu atroz golpear tortuoso,

Destruir minhas Babéis.

Babéis que eram meu pórtico.

Pórtico de minhas lágrimas

Vertiginosas, agudas e túmidas.

Lágrimas que penetram terras;

Terras de minha deusa Gaia.

Terras de areais que chorei,

Em viçosas terras que andei.

Choro em lágrimas perpétuas.

A minha voz lacrimeja nacos infinitos

De pesares e dores que acumulei.

A voz infinita preenche solos que sonhei,

Nos areais que chorei.

Nas terras que andei.

Nas verdosas sementes que plantei.

Lá nas terras e teogonias que criei.

Grande Orfeu
Enviado por Grande Orfeu em 20/10/2023
Código do texto: T7913138
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