Manhã de primavera

Eis que abro os olhos...

É primavera em seu apogeu e sinto como se fosse uma manhã qualquer de quarta-feira.

Nada tem mudado nem recomeçado.

E isso cabe a mim também.

Eis que respiro um pouco mais profundo.

Sinto como se não tivesse mais nada a fazer.

Sinto como se só isso fosse o bastante.

Mesmo tentando insistir, sinto tudo ruindo aos poucos...

As coisas que eu fiz...

As coisas que eu faço...

O que as coisas fizeram de mim.

Até o futuro se rompe diante dos olhos... que permanecem abertos.

Absurdo ou não,

não sei onde estou errando na missão de recomeçar.

Talvez não esteja de fato recomeçando...

Ás vezes, sinto assim.

Relembrando fatos antigos e fotos recentes, percebo que meu sorriso não mudou muito.

Parece o mesmo sempre...

Eis que começo a pensar se sempre sorri assim sem querer...

Já não sei se são momentos reais,

se são pessoas reais

ou se é apenas mais um comercial de refrigerante.

Realmente já não me reconheço em muitas coisas e pessoas.

E as palavras que deveriam me fazer companhia, fogem...

Somem entre mais um momento de silêncio.

Sinto uma ânsia irresistível de sorrir, porque de certa forma,

não deixa de ser engraçado...

Afinal de contas é primavera!

Faz sol lá fora!

Tudo vibra e vive!

A vida me convida a sair da cama!

Mas eis que cubro a cabeça.

Mas também não tenho sono...

É só mais uma manhã...

São apenas flores...

E já não quero mais fingir nenhum sorriso...

Mesmo sendo um fato tão antigo...

Silvia Coutinho
Enviado por Silvia Coutinho em 08/01/2008
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