Ao relento
Subia a calçada
Um homem idoso ,
Alma descalçada
De olhar amistoso .
Roupas rasgadas ,
Há pouco costuradas ,
Senti-as eu , até perfumadas ...
Nem um forcejo
Na dose de dignidade ,
Que ainda hoje vejo
No seu rosto de cumplicidade !
Tomei-o para mim
Ante aquele tropel !
Desdobrou-se num sim ,
Tocou a sua , a minha pele .
Li o pensamento ,
- O aconchego da sua morada .
E eu procurei um povoamento
Até ser noite cerrada ...
A sua face olhou a da lua
Com um aceno amistoso .
Perante mim , abriu os braços pra rua ;
Que lhe dissesse se o tempo viria chuvoso !
Ergueu a voz
E com ela a mão
Que indicava uma direcção ...
Um velho banco de jardim
Colado a um tronco robusto ,
Abraçou-se-lhe por fim ...
Deu vida ao seu alegre busto !
Deitou-se no velho banco
Sob o meu olhar atento . ..
Adormeceu enrolado num manto ,
Deitado ali ... ao relento !