IMAGEM APAGADA - NA INTEGRA

Vou apagar essa imagem de mim

Para eliminar o que me tornei

Hoje o meu sorriso

Perdeu-se

Procurei, chamei, mas não o encontrei

O meu rosto permaneceu estático

Ausente, indiferente

Senti vontade de ir embora

E não mais voltar

Neruda em um dos seus poemas diz:

“Acontece que me canso de ser homem”

Eu digo: “Acontece que canso de ser gente”

Tudo se torna vago, vazio

Os meus erros estão diante de mim

Não sei ser como as demais pessoas

Não sou o suficiente bom e capaz

Para estar com elas, entre elas

E as perguntas surgem ainda hoje

Muito embora o tempo tenha passado

Onde tudo perdurou

E o que ficou?

Sinto as mesmas inquietações e vazios da

Minha adolescência

Acho que por que foi sublimada

Embutida em historias mal contadas

Talvez tenha me perdido

Em toda essa ausência

De não saber me construir

O tempo passou

E o que restou

Sobras, migalhas que tento

Juntar a mim

Para talvez me sentir igual

Normal

Mas o que houve?

O inconsciente pergunta

É tudo tão tosco

Entorto o corpo

E ponho o coração na mão

E esprimi um sorriso

Buscando uma razão

Perguntei-me numa certa hora

Porque esse desencanto pessoal

Diante de tudo agora?

Então fiquei mudo

Talvez surdo, quisesse argumentar

Fundamentar,

Quis dizer, falar, conceituar, chorar

Mas o meu “eu” virou-se

Afastou-se

Enquanto a noite caia

Na sua bela quietude

Fechei os olhos

Então ouvi ele falar

Deixe o amanhã nascer sem você

Nada ira mudar

Não! Não precisam chorar...

JORGE BRITTO
Enviado por JORGE BRITTO em 23/02/2008
Código do texto: T871810
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