Um céu sem estrelas, e uma estrela sem céu.

Quero que saiam todas as estrelas do céu

Quero contemplá-lo nu

Quero que sumam todas as mentiras de mim

Quero contemplar-me livre

Hoje quero deitar no descampado

E apenas observar o giro da vida

Lembrar da mágoa, da ferida.

Lembrar do amor e da amizade correspondida

Lembrar de tudo o que fiz nessa minha estranha vida

Como se fosse mais uma das estrelas que apagam

Depois daqueles momentos de paz em que iluminei a todos

Hoje vejo que sou apenas mais um corpo celeste

Num giro necessário

Agora estou emanando minha última luz na imensidão campestre

Sou apenas um artigo usado, desnecessário.

Amanhã será apenas mais um dia

Como tantos outros em que estrelas desabam negras e passadas

Não sei se há renovação para mim

Sinto como se corresse por decisões atrasadas

Queria apenas uma vez ser a estrela que voltou

A brilhar no coração de alguém

Não quero ser aquela flor que cedo murchou

E não foi lembrada por ninguém

Quero que venham todas as estrelas do meu céu

Não quero brilhar nem cair sozinho

Mesmo se for apagado

E dos céus desabar calado

Quero sempre ser alguém

Sempre ser lembrado

Sempre ser aquele

Que dos céus desabou gelado

Como se fosse uma lua, como se fosse um sol, apagando.

Observo o mundo girar como se não estivesse fixo nele

Como se levantasse vôo na imensidão, flutuando.

Observo a vida tomar um rumo estranho para ele

Como se a realidade não passasse de delírio surreal

Como se eu não passasse de lembrança matinal

Que com o cair da noite brilha uma última vez

E desfalece

Na imensidão dos céus meu desejo desaparece

Como se não fosse nada

Sou um céu sem estrelas, e uma estrela sem céu.

Só o suspiro de um grão de areia em uma praia abandonada

Sou a estrela que morre, um pedaço dos céus que caem.

Sou a sensação de que não passamos de um ilusório reflexo do nada