NO OUTONO

Se as lembranças superam os planos

A saudade é maior que as aspirações

Se os amigos recolheram-se (e mesmo os conhecidos)

E a noite ficou longa

Tuas músicas desusaram-se

As mãos esfriaram e não suam mais

Se queres e não alcanças

Se sabes que a instância

Daqui a uma década e meia

É uma impossibilidade,

O instrumento que foi o teu

Desafinou-se incorrigivelmente

Sem notas, sem notas, e nem notas

Que a bicicleta é tetra

E agora é outro o nome daquela rua

Em que moraste, onde brincaste nas calçadas

Aquela praça que existia sob o sol dum domingo

Longínquo está reclusa nas fotografias e psicografias

Dos octogenários, dos sonâmbulos

Falando sozinho pelos cantos

Com quem ?

Quando em lágrimas expulsou-nos do paraíso

Nas tardinhas seguidas

Deve ter-se vazio

Com quem conversar ?

Seria um retorno ?

Já que chegou a tardinha

E aos velhinhos tudo se lhes perdoa

Por inútil o castigo

Por tão parecidos com o que foram

Em crianças

Não importa se na quarta-feira,

Se teu peito se comprimiu

Ante o que antes, infra, supra se lê,

É que lhe chegaram

Em outonais ...

Marconi Barros
Enviado por Marconi Barros em 12/04/2008
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