NO OUTONO
Se as lembranças superam os planos
A saudade é maior que as aspirações
Se os amigos recolheram-se (e mesmo os conhecidos)
E a noite ficou longa
Tuas músicas desusaram-se
As mãos esfriaram e não suam mais
Se queres e não alcanças
Se sabes que a instância
Daqui a uma década e meia
É uma impossibilidade,
O instrumento que foi o teu
Desafinou-se incorrigivelmente
Sem notas, sem notas, e nem notas
Que a bicicleta é tetra
E agora é outro o nome daquela rua
Em que moraste, onde brincaste nas calçadas
Aquela praça que existia sob o sol dum domingo
Longínquo está reclusa nas fotografias e psicografias
Dos octogenários, dos sonâmbulos
Falando sozinho pelos cantos
Com quem ?
Quando em lágrimas expulsou-nos do paraíso
Nas tardinhas seguidas
Deve ter-se vazio
Com quem conversar ?
Seria um retorno ?
Já que chegou a tardinha
E aos velhinhos tudo se lhes perdoa
Por inútil o castigo
Por tão parecidos com o que foram
Em crianças
Não importa se na quarta-feira,
Se teu peito se comprimiu
Ante o que antes, infra, supra se lê,
É que lhe chegaram
Em outonais ...