NADA

“Ah, de onde vem esse desejo de sumir na própria tinta do livro,
de esconder entre as palavras?...”
                                                   (in “Fragmentos”)

Outra vez essa vontade
de deixar o tempo passar;
e num 'dolce far niente'
sorrateiro a vida levar
...

Essa sensação de vazio
de inutilidade, ócio, preguiça,
será da falta das delícias
que me tira todo o brio?

Hoje quero, amanhã não.
Ontem não queria, quisera talvez.
E assim é todo mês.
E eu nessa confusão.

Recado, recebo aos montes!
Das Marias e das Marílias.
Reclamando com razão
da minha pobre inspiração.

Já me vi entre valquírias
galopando com Odin.
E entre carroça de flores:
ofereci até um jardim!

Deverei caminhar pelas nuvens?
Navegar mares distantes?
Ou, procurar minhas origens
e tornar a ser como antes?...

Cantor das madrugadas frias.
Companheiro da solidão e da magia.
Real, carinhoso, cortês...
Simplesmente ser eu mais uma vez.

Mas... e essa preguiça
Que me abraça e me devora?
Se for, ela chora;
Se fico, ela me atiça?...

Assim passa o tempo
e eu nessa indecisão.
Entretanto, resta o alento
de viver na solidão.

 
E tentar ser finalmente
poeta e fingidor,
que deveras sente
amor, saudade e dor... 

 
                (Para as Marias e as Marílias)
 
                                              Vinhedo, 9 de março de 2009.


Benevides Garcia
Enviado por Benevides Garcia em 09/03/2009
Reeditado em 17/03/2009
Código do texto: T1477781
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