Divagando, na Lagoa das Furnas

Repara amor na lonjura do horizonte

a alma da passarada imergiu na paz

lacustre, e na sombria lisura

da água, subterfúgio de silêncios

e palácios de deusas encantadas.

Os barcos, adormecidos nas margens,

esperam as melopeias do dia seguinte

e servem de cendal aos patos dormentes

enquanto os cisnes se refugiam

na prata obscura das reentrâncias

do lago, envolto na magia do silêncio.

Atrás de nós, o sulfúreo sabor das furnas,

dança na sensibilidade do nosso olfacto,

escorre-nos pelas faces e entra na alma

inebriada por arroubos de paz

e tranquilidade sem limites.

Uma mariposa vem, suavemente, poisar

no teu ombro, trazendo na leveza das asas,

a doçura de toda a natureza envolvente

e a fluidez fugidia duma luz esvanecente.

Uma ligeira brisa de sabor floral

levanta-lhe as asas e, na leveza do sonho,

lança-a para os sulfúreos vapores

onde desaparece, entre o esmaecido

verde cinéreo, da sonolenta paisagem.