Amanheceu

Amanheceu.
Tudo que o homem tinha de sofrer, sofreu.
E o que tinha de aprender, já aprendeu.
Uma única lei nos guia agora.
Somos os habitantes da aurora.
Engatinhando não mais em busca da perfeição,
mas da união.
E isto só se pode fazer conhecendo o chão.
Um chão que não é deste ou daquele,
nosso ou vosso.
É simplesmente um chão, para raízes criar.
E fortalecer com uma única palavra: Amar.
Como se tivéssemos nascidos ontem
vamos esquecer tudo que fomos e fizemos ontem.
O amanhã não será disputado, só chegado.
E será sempre continuado e amado.
Como o momento presente, que nada terá de errado.
Agora, esqueçamos o homem-máquina.
Nasceu o homem simplesmente, no corpo e na mente.
Acompanhando as estações e as mutações.
Sem querer saber porque a natureza fez.
Deslizando sobre águas cristalinas, irão os peixes.
Pisando em chão virgem, irão os homens.
Voando em céu claro, irão as aves.
Sopradas por ventos puros, irão as folhas.
E tudo isto dirá, e tudo isto mostrará,
que o sonho se realizou.
Que no mundo onde o homem mora:
Amanheceu!


São Paulo, 15 de fevereiro de 1.976