BALA PERDIDA
Hoje eu estava tão triste,
diria que estava armada,
pois tinha meu choro em riste
com a trava liberada.
Sem mirar, solto o meu pranto
e, como bala perdida,
sai da culatra o meu canto
acertando outra saída.
Olho a muralha, em buracos,
extravasando a fumaça;
espalhando a dor, em cacos;
dando fim a uma desgraça.
A chuva que faz a dor
é a mesma que aduba a terra;
quebrando o galho da flor,
os grilhões ela descerra.
Disse a poeta, sincera:
“Me corte assim por inteira,
como faz a primavera,
que voltarei verdadeira”.