BALA PERDIDA

Hoje eu estava tão triste,

diria que estava armada,

pois tinha meu choro em riste

com a trava liberada.

Sem mirar, solto o meu pranto

e, como bala perdida,

sai da culatra o meu canto

acertando outra saída.

Olho a muralha, em buracos,

extravasando a fumaça;

espalhando a dor, em cacos;

dando fim a uma desgraça.

A chuva que faz a dor

é a mesma que aduba a terra;

quebrando o galho da flor,

os grilhões ela descerra.

Disse a poeta, sincera:

“Me corte assim por inteira,

como faz a primavera,

que voltarei verdadeira”.

Dáguima Verônica de Oliveira
Enviado por Dáguima Verônica de Oliveira em 06/04/2010
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