SOBRA

ÊLE FAZ o grito

e não cobra.

Segue o rito

mas, não sobra o mundo no dedo.

Tece a morte em tijolos sujos

de cal e cimento.

Corta os sonhos das mãos.

Mata-os.

E depois deixa crescer.

E depois deixa escapar.

Procura num leito vazio

sanar o encontro adiado;

o passado incerto

que pousa em nuvens ainda amorfas.

Esboça um sonho

e fecha na caixa sem fundo e

tampouco sem chave.

Isso é o fim.

Sem preço, sem nexo, sem dúvida.

A bomba vem e apaga projetos,

murcha as últimas rosas.

O homem nasce e cresce com náuseas.

E quer amar a parede, a foto,

o corpo ainda verde

e todas idiotices que há.

Quem amaria a um ser assim?

e êle ainda perdido

faz o grito sem eco.

Calado, intacto

e sôbre os ombros carrega

os traços do pecado.

Espera.

Espera quem sabe um dia,

amanhecer.

Wagner Marim
Enviado por Wagner Marim em 08/05/2010
Reeditado em 02/11/2010
Código do texto: T2245011
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