Última lágrima
Guardei a última lágrima
no nácar magoado dos meus olhos,
como quem se fecha em concha
para se revelar em pérola.
(e a esperança a envolvê-la,
em reacção visceral...)
Doeu-me o corpo intruso
cristalizado em áspero sal
que me feriu nascentes
de inocentes águas doces.
(e a dura seda a tecê-la.
em calcária arte fulcral...)
Reagi à última lágrima
com defensivas complacências,
como quem doura uma gema
de imprevisível talhar.
(e o fluído doce a mantê-la
em berço epitelial...)
Rendeu-se a última lágrima
à dor simples da madrepérola,
e em conversão revestida
refez-se em conta de apreço
(e o fio que fiz com ela
ornou-me um rio final...)
de iridescências e aljôfar...