Última lágrima

Guardei a última lágrima

no nácar magoado dos meus olhos,

como quem se fecha em concha

para se revelar em pérola.

(e a esperança a envolvê-la,

em reacção visceral...)

Doeu-me o corpo intruso

cristalizado em áspero sal

que me feriu nascentes

de inocentes águas doces.

(e a dura seda a tecê-la.

em calcária arte fulcral...)

Reagi à última lágrima

com defensivas complacências,

como quem doura uma gema

de imprevisível talhar.

(e o fluído doce a mantê-la

em berço epitelial...)

Rendeu-se a última lágrima

à dor simples da madrepérola,

e em conversão revestida

refez-se em conta de apreço

(e o fio que fiz com ela

ornou-me um rio final...)

de iridescências e aljôfar...

Teresa Teixeira
Enviado por Teresa Teixeira em 28/03/2011
Reeditado em 28/03/2011
Código do texto: T2875482