::: HEI DE ANDAR... :::

Não tenho um subterfúgio oriundo de mim

Mas, na verdade, tenho uma prosopopeia ambulante,

Que figura faz-se das concepções estrondosas

Com que raízes de eloquências morrem na fome

Das palavras mais simples para desenhar no céu

O lamaçal que criamos de medos.

Há de conjurar pequenos devaneios famigerados

Ou, no mais sublime, pequenos sonhos dourados

Que hão de alinhavar o pequeno sobrepujo

De dores que jorram dos peitos humanos.

Morte com que desenhamos a vida,

Temores com que invocamos coragem,

E pesadelos com que buscamos sonhos

Não adormeçam nas noites solitárias.

Eis que tenho medo do presente que me atormenta,

E por isso, busco com tanta intensidade o futuro

Que me rapte das águas frias da inércia.

Abraçado à estranha fonte da solidão

Eu abandono a companhia para entendê-la.

Não turve meu verso indolente com a busca

Que eu não consigo buscar;

Não espere aquilo que jamais te hei de dar!

Sente-se comigo nesta mesa com que reparto

A única parte inteira de mim;

A única parte que sangra com alegria...

A minha alma.

Observe atentamente pequenos passos solitários

Na areia da vida inconstante e irregular.

Observe e veja que ando só por necessidade;

Pela necessidade de descobrir

E de amansar o Leão que tem matado meus amores;

O Leão que tem me inundado de temores.

Hei de descobrir quais são as minhas retas

Quando alinhar as minhas curvas.

Matando hei de encontrar a vida;

Matando meus pequenos medos.

Chorando hei de sorrir.

Eu deito no antagonismo contundente da vida

E ando só até que encontre loucura;

Loucura suficiente para que alguém deite comigo

No frio chão da vida e ouça os rumores da humanidade

E sinta o vento dos temporais dos meus sentimentos.

Hei de te olhar profundamente até que eu veja

No fulgor de tuas feições cada ancestral morto

E, não menos justo, revivido na linhagem de sua perfeição.

Portanto, hei de andar só

Até que tenha a necessidade da não andar mais assim

Quando me sufocar a fome de ter-te junto a mim.

Enquanto isso,

Eu hei de andar só!

Não chore... Enquanto não estiver comigo.

Ygor Pierry
Enviado por Ygor Pierry em 25/12/2011
Código do texto: T3406195
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