Nouvelle Année

O que me espera atrás da porta?

Corro sem me mover,

Grito berro nenhum,

Suo algumas lamúrias...

O que me espia pela fresta?

Paralisado estou, me sinto rodar.

Fico tonto sem nem mesmo testar

O poder de fogo daquele absinto.

E eu sei... Eu sinto...

É chegada a hora, é chegada a aurora

Que é clara, porém, negra...

Pois não há sol... Apenas neblina.

E o que se inclina por sobre o horizonte?

É, quiçá, um Leviatã informe,

Ou quem sabe uma bela menina.

É água limpa que desce o monte,

Ou barro negro que traz folia.

“O que? Quando? Aonde?”,

indaga minha sonolenta razão.

Vendo a alma do andarilho,

Da minha não abro mão!

“Não te rias do velho bêbado

que cambaleia rente o abismo”

(disse o assombro invisível)

“Podeis ser Deus a te atentar...

ou o diabo de improviso”.

O que me espera atrás da porta?

O que me espia pela fresta?

Que língua fala essa alvorada?

O que virá depois da festa?