Amanhecer
Em versos livres de mim
aonde não chegam pés métricos,
agarro no fueiro do bonde
em movimento uma única
vez antes de esse transporte desaparecer.
Salto ao futuro de dois mil e quarenta,
com a saúde das renúncias
ao vinho, ao movimento,
e agora a academia de ginástica
é a clínica de fisioterapia perto de casa,
estesia sem ânsia.
Agarro o fueiro do bonde da história,
apesar da descrença nos políticos,
do excesso de gordura na máquina do executivo,
do sobrepeso que carrego concentrado na barriga,
do pior dos piores momentos
da existência do Congresso Nacional,
da presbiopia concreta dos meus olhos céticos.
Em completa entropia:
retorno ao caos da paz familiar,
na madrugada dessa sexta-feira,
quando o galo, queiramos ou não,
anuncia um novo amanhecer.