EU GRITO

eu grito

meu grito é finito

grito oprimido

pelas notícias do mundo

pelas balas perdidas

pelas crianças feridas

e mortas

pelas portas fechadas

pelas expostas feridas

pelas mãos aflitas

segurando o sangue

que insiste em jorrar

pelas janelas fechadas

nas favelas

nos edifícios

nas cidades do interior

eu grito

meu grito é sufocado

pelo grito das sirenes

das ambulâncias

das radiopatrulhas

pelo som dos freios

dos carros que arrastam crianças

dos berros de fera

dos assassinos

eu grito

meu grito é um verso roto

que já nasceu morto

no branco do papel

mas grito!

e insisto no grito

alguém há de me ouvir

mesmo a humanidade

plenamente surda

Beto Carrasco
Enviado por Beto Carrasco em 13/03/2007
Código do texto: T411130