A MENINA QUE INSPIRAVA SONHOS
E vivia, como quem vivia em guerra
Acolhendo sobras como se fossem doces
E sonhava, como numa vida bela
Sorrindo, como se escudo fosse
Horas cantava, quando ninguém ouvia
Canções que sua mãe cantava pra ela
Vivia o inverno permanente do fogo
A guerra pelo poder não tem primaveras
Subia a serra em silêncio, oculta na mata
Aceitar nunca foi seu impulso mais forte
Viu de tão perto a maldade humana
Era só uma estrela no universo da morte
E orava como aprendeu ainda criança
A uma salvação que parecia jamais chegar
Luzes à noite? Quiçá uma vela, talvez
Ou com muita sorte, uma noite de luar
E lembrava, como se vivido houvesse
No tempo que tanto despertava nostalgia
Era a menina que inspirava sonhos
E mesmo certas, suas lágrimas ninguém via.