Desesperando por outros tempos
Desesperados,
caminhamos por enigmáticos trilhos.
A irreconhecíveis passos, andamos.
Mas uma ténue esperança
ainda nos deposita vida.
Outros tempos nos alcançarão.
Demorarão,
mas chegarão.
Como a justiça deste terráqueo chão.
Chegarão, sim, esses novos tempos,
Em que os vivos revezarão os mortos,
que neste errante mundo abundam.
Tardarão,
mas chegarão esses tempos.
Em que as vítimas procurarão
pelos seus assassinos.
Os recolherão aos calabouços.
E sem demoras lhes ditarão sentenças.
Novos tempos vão chegar.
Tempos que percorrem lonjuras
com os próprios pés,
dispensando auto-carros, trens, navios, aviões e camiões.
Haverá novos tempos.
Em que política não será uma profissão,
e sim, ocupação.
Para todos os problemas, uma solução.
Outros tempos estão a caminho,
fazendo paragem em espaços com espinhos.
Descansando, vezes inúmeras
para ganhar fôlego
e logo partirem.
Novos tempos estão no ventre deste mundo,
esperando pelo seu demorado nascimento.
Tempos que libertarão as mulheres da prisão
a que outro tempo as sujeitou.
Novos tempos chegarão
empunhando malas e almas,
as suas vidas e seus víveres.
Outros tempos chegarão
para julgar os mortos
e os tortos,
saldar as dívidas das vidas dóceis
e doces.
Novos tempos chegarão
para acudir à contenda entre o mal e bem.
Esses tempos darão semente
ao sobrevivente,
dente à serpente,
pente ao doente,
condigno teto ao homem do gueto.
Novos tempos virão.
Em que a evolução nos será ditada pelos pobres.
O Sul mandará no Norte.
A vida derrotará a morte.
O azar será batido pela sorte.
A paixão destruirá tanto o caixão
quanto o chão que o sustenta.
Novos tempos virão.
Tempo que esperamos sem tempero,
adiando o nosso enterro.