TEIMOSIA

Um dia ela foi decepada, despida de sua altaneira beleza

Desgalhada, roída e rompida por inclemente serra

De dentes afiados e poderosos: elétrica, de mortal frieza,

Prostrou-a ao chão como um destroço de guerra.

Encantava a todos: jovens, adultos e crianças,

Abrigava nos braços bandos de aves cantadeiras,

Sombra fornecia e convidava a um bom descanso

Quando a canícula ardia feito fervente frigideira.

Esqueceram, porém, de um resto no solo fincado,

Aparentemente sem vida, morto definitivamente.

Correu os dias e eis que acontece algo inusitado:

Surge um sinal de vida, um broto irrompe inocente.

Teimosamente vence do tronco a dura carcaça,

Lentamente viceja, verticaliza-se, começa a crescer;

Como tênue fio de esperança dá seu ar de graça,

E se deixarem que ele vingue, vida nova há de ser.

Mas, fica calado, renovo amigo, silencia, te peço;

Não faz barulho; que seja sem alarde seu progresso.

Pode ser que alguém perceba este promissor recomeço,

E queira novamente dar fim e matar o teu regresso!

5/9/2015

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 05/09/2015
Código do texto: T5371670
Classificação de conteúdo: seguro