TEIMOSIA
Um dia ela foi decepada, despida de sua altaneira beleza
Desgalhada, roída e rompida por inclemente serra
De dentes afiados e poderosos: elétrica, de mortal frieza,
Prostrou-a ao chão como um destroço de guerra.
Encantava a todos: jovens, adultos e crianças,
Abrigava nos braços bandos de aves cantadeiras,
Sombra fornecia e convidava a um bom descanso
Quando a canícula ardia feito fervente frigideira.
Esqueceram, porém, de um resto no solo fincado,
Aparentemente sem vida, morto definitivamente.
Correu os dias e eis que acontece algo inusitado:
Surge um sinal de vida, um broto irrompe inocente.
Teimosamente vence do tronco a dura carcaça,
Lentamente viceja, verticaliza-se, começa a crescer;
Como tênue fio de esperança dá seu ar de graça,
E se deixarem que ele vingue, vida nova há de ser.
Mas, fica calado, renovo amigo, silencia, te peço;
Não faz barulho; que seja sem alarde seu progresso.
Pode ser que alguém perceba este promissor recomeço,
E queira novamente dar fim e matar o teu regresso!
5/9/2015