Sem título XLVI
Num desses momentos epifânicos
Me recosto sobre os cantos
Fecho os olhos quando canto
Me encanto com o mundo
Me perco em mim mesma
Já não sei mais se o que quero
É o almoço ou a sobremesa
São palavras aleatórias
Frases tão pouco profundas
Tão muito superficiais
Pensamentos jamais ditos
Dessa boca que lhe permito
Beijar um pouco mais
Sobre o céu um esplendor
Sobre a lua um velho sonho
Da criança acenando para o avião
Debaixo da majestosa luz de fogo
Na chuva, danço eu
Já que nessa vida
Um tanto quanto pouco aflita
Só sobrevive quem viveu.