GÉRMEN DE ESPERANÇA
Uma árvore plantada, numa casa na minha rua,
Como há milênios fizeram suas antepassadas,
Dispara a esmo suas sementes prontas e maduras,
Na esperança de ver surgirem novas criaturas.
A força do disparo é tanta, a pontaria certeira também,
Que as sementes voam por todos os cantos e arredores:
Acertam vidraças, sobrepõem grades, galgam telhados,
Num afã de encontrar solo fértil, propício, acolhedor.
Não será fácil, amiga árvore, divina criatura!
O chão de piche, escaldante não é apropriado,
Torço que vença esta batalha, difícil e dura,
Consiga penetrar a barreira do solo asfaltado.
Consola-te, amiga, há ainda tênue esperança:
Guardei um destes teus gérmens, voadores certeiros;
Dias destes qualquer, como uma alegre criança,
Fincar-te-ei no chão da vida a espera de novos herdeiros.
J.MERCÊS
2.12.15