Anjos profanos

Meu amor inda preso, eis, o quadro real

No convento desencanto, severa madre;

Quem sabe, dentro do seu bolo de Natal

Passou-lhe uma serra, pra cortar a grade...

Devaneio melhor sorte, às vezes duvido,

Que haja sais pra raiz sedenta, da planta;

Mas, o tal indulto natalino solta bandido,

Bem que poderia franquear minha santa...

Saltitam, os planos B, C, e todo o alfabeto,

Contudo, vendo alternativas, a você, vejo;

Amor, de todos abstratos, o mais concreto,

Aí, não aceita o plano B, é um ímpar desejo...

Desprezo ao conselho insano que madruga,

Estúpido, julgando trazer, proposta de peso;

Caso manifeste alguma ingerência, na fuga,

o amor vindo assim, não vem, segue preso...

Correspondência, a precisa e fatal garrucha,

Sem a qual, não adianta dar nenhum passo;

Com esse nexo, uma frágil linha já lhe puxa,

Sem isso, não adianta, nem um cabo de aço...

Sem censuras, a paixão turbas vistas, eu sei,

E vistas baças, acabam fazendo opções más;

Falo sabendo, em suas garras também errei,

Nesse caso não se difere, Cristo de Barrabás...

Olhos claros, coração seguro, colo em brasa,

São três anjos profanos, invadindo a cadeia,

o casulo já não serve após o surgir das asas,

Amor, paladar seleto, só com amor, faz a ceia...