Cicatriz

Há um lato espaço antes do último sono,

Que se pode cobrir com sapiência, afeto;

Quantas maturidades terão ainda, abono,

Mesmo o prazer, aprenderá nosso dialeto...

Nas águas claras da sina muitas braçadas,

A cantar juntos, o canto do amor maduro;

E o ninho que desfará as águas passadas,

Será lição de vida para ensinar no futuro...

Meu carro novo, um tipo do novo caminho,

E a agulha cravada, enfim, fechando o corte;

O chão pra se pisar, refeito, claro, novinho,

outros lamentando ser fracionária sua sorte...

E o filhote que vai viçar com o nosso pasto,

medirá novas terras nos muitos passos seus;

meu prejuízo tolo no investimento mal gasto,

as novas da ventura desfarão lamentos meus...

Na pele fulgindo o brilho de ser, enfim, feliz,

E as tintas escolhidas forjando nova pintura;

A perna ferida apenas lembrança, só cicatriz,

Os frutos do esquecimento trarão sua cura...

O refazer de uns, pra outros atrai certa fúria,

O vidro do tempo lavado, não mais fica baço;

o olhar, enfim certo, evitando janela espúria,

colírio na boca, das que “viram” teu fracasso...

Assim olvidaremos nossas pretéritas pisadas,

quando o Fado matreiro precisava de joguete;

tudo bem, nosso amor não será conto de fadas,

nem mesmo será um conto, apenas, banquete...