Lázaro

O amor tem a leveza de uma pluma,

Quiçá, mais, de uma bolha de sabão;

Rasga distâncias nas asas que arruma,

Mas, pesa qual chumbo quando não;

Fere de morte, o seu incisivo aguilhão,

Escarnece do seu morto-vivo, e inuma...

Mesmo quando anda por ditosas vias,

Ainda fere ao afoito anseio da gente;

Que pressa temos de beber alegrias!

E o amor sádico descansa indiferente,

Como Cristo sabendo de Lázaro doente,

Ainda esperou passar mais quatro dias...

Sim, o amor sabe que é senhor de nós,

Pode dar tempo, fingir ojeriza, lonjura;

Seja silente ou, mesmo soando sua voz,

É o príncipe da nossa vida e da doçura,

E pode ressuscitar-nos da ida amargura,

Com doses de ternura que servir após...

Eis-me Lázaro, morto esperando licença,

Para sair da cova caso removas a rocha;

té pode ser exemplo, minha renascença,

se quiseres, amor, avivar a alheia tocha,

do que, ao menor desengano já afrouxa,

poderá aprender que esperar compensa...