Icarus

Perdido neste labirinto

Escuro em densa penumbra,

Não sei o que vejo, o que sinto

Cavo a cova, catacumba.

Preso em escuridão confusa

Entre mil paredes serpentinas

Artifícios que o medo usa

Não diferencio noites ou matinas.

Com engatinhadas peregrinas

Tateio às cegas algum vão,

Perder-me em neblinas

Buscando uma saída em vão.

Não sou herói escolhido

Sou fraco, tenho medo,

Se ando ou fico escondido

Desconheço qual enredo.

Cercado por frias paredes

Ouço os passos do terror,

Amedrontado prendo-me em redes

Sucumbindo ao temor.

Recôncavo que nasce morte,

Brotando do Espírito da Vida,

Sobrepõe cálido sangue forte

Derramado de almas banidas.

Condenadas ao esquecimento

Presas, só aguardam o corte

Para cerrar o sofrimento

Todos filhos sem sorte.

Ariadne dá seu aporte

Àquele afortunado campeão

Que além do Divino porte

Corteja seu nobre coração.

Para aqueles incapazes

De matar a Fera

Que aterroriza a esperança,

Devem ser mais audazes

A ouvirem o que dissera

O que a criatividade alcança.

Lutar ou voar?

Ter glória ou liberdade?

Dédalo oferece uma saída...

Se o Minotauro me matar

Serei glorioso em mortalidade

Mas perderei a vida.

Se opto por fugir

Serei covarde liberto,

Meu nome na posteridade

Não irá existir,

Pelo ostracismo coberto

Morre Rei pela ação da idade.

Se mato o Minotauro

Ainda estarei preso,

A coragem não traz amparo

Liberdade é o que prezo.

Vejo lá em cima uma abertura

Confecciono minhas réplicas aladas,

Tomo fôlego, fujo do lar da criatura

Batendo bem forte minhas asas.

Fujo do Monstro, mas não do medo,

Pois voar também amedronta,

Faces do mesmo arremedo

Quem é guerreiro que o afronta.

Além dos corredores hostis

Esbarro no ar feito o vento

Sem a presença de seres vis

Estou livre de tal tormento.

No belo infindo firmamento

Não há ilusório labirinto

Apenas o perfeito refinamento

Maravilha dos deuses neste recinto.

E aqueles que estavam comigo

Nesta grande alada jornada,

Em busca de encontrar abrigo

Voltando para nossa morada,

Não me viram retornar,

Jamais cheguei ao destino

Dizem que caí no mar

Derretendo as asas do peregrino...

Mas isto não me aconteceu,

Perto dos limites do céu

Onde nenhum mortal chegava,

O Carro de Apolo resplandeceu

O firmamento tirou seu véu

Nova casa me aguardava.

Os Deuses deram-me um convite:

Viver na imortalidade do Olimpo

Por verem que no homem existe

O brilho dum sentimento tão limpo.

Quando nos faltarem opções

De saída pela terra,

Olhemos as constelações

Voaremos por aí, livres da guerra.

Hilton Boenos Aires.

25 - Janeiro – 2016.

Caruaru – Pernambuco.

Hilton Boenos Aires
Enviado por Hilton Boenos Aires em 18/03/2016
Reeditado em 21/01/2019
Código do texto: T5577465
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