Assim Seja

que seja o mar a levar as dores

que seja a pétala a amparar a rosa

e o pretendido gesto de esperança

venha sem receio e sem moldura

no deserto das renúncias

da imensidão lisa e transparente como um vidro

venha o hálito bom do futuro

trazido no sol das manhãs

e plantado em jardins clandestinos

que seja colhido o lótus do amor

na sombra que morre quando a luz invade

e seja abismo o portal da ousadia

do querer bem e fazer o bem

que a poeira do tempo recolha a âncora da verdade

e arranhe intrepidamente a cegueira do silêncio

e que seja manso o despertar das palavras

a embalar as almas em sedas multicores

depois que a pele perdeu o dom dos arrepios

nada mais surpreende

a não ser a beleza: sempre

que as mãos nos guiem tateando nuvens e sonhos

hipnoticamente levados pelos poemas das faces

que sejamos todos infantes na candura

a soprar aleluias aos cálidos ventos da arte

que seja perpétuo o homem a ressurgir de seus cansaços

Helenice Priedols