ABSURDO

ABSURDO

Neuza Maria Spínola

Nada pode preencher,

Este vazio que me vai n’alma;

Um vazio intenso, oco, a doer,

Permanente de tortura e silêncio,

Como um espaço vago e aberto

Que não se cala ou se acalma,

Uma saudade que pede a presença

Em tristeza e torturante ausência.

Todos os olhos à minha volta,

Estão tristes, quase chorando;

Sinto-me uma tela irreal e solta,

Cujas cores vão se apagando;

Quem sabe se eu ficasse ao vento,

Ele varresse os meus pensamentos;

Me acordasse dos meus sonhos,

Agitasse de mim, meus escombros;

Espalhasse minhas escuras nuvens,

Fizesse cair uma chuva branda,

E mesmo com névoa, se abrisse uma fresta,

Brilhariam no meu céu novas estrelas,

Vissem meus olhos, novo sentido,

Afastassem do coração esta angústia,

De continuar sonhando, ter confiança;

Mantendo em mim acesa a esperança;

Esta luz da esperança, que me faria,

Sorrir como uma simples criança,

Brilharem meus olhos verdes, de esperança,

Bater o coração numa alegre inconsciência,

Sentir a saudade cada dia mais longe,

Saber que é possível pulsar novamente,

Olhar-te nos olhos, amar-te ternamente,

E continuar querendo ser feliz!

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