Tenho sede de tempo

tenho sede de tempo,

cai a tarde

como fruta madura

e à distância cantam os pinhais

o sol já não arde,

tocam os sinos dando sinais

e eu aqui oculta pela bruma

lembrando tudo,

tanta coisa uma a uma.

lembro o caminho da nascente,

com os risos de então

lembrança sempre presente

que não rejeito...não!

quero ser criatura

de alegria,

trazer à minha noite o luar

e eu e tu ser um só rio

a desaguar no mar...

extingue-se mais um dia

entre matizes amarelos

tenho sede de tempo

dum tempo primaveril

aquele que me vestia

a alma

e não este, que é prisão

e me corrói o rosto,

e esvazia o coração.

dá-me a mão,

vamos caminhar mais agéis

viver mais intensamente

onde o limite seja o céu

só tu e eu.

por algum tempo havemos de ignorar

o que de nós se perdeu

vivamos mais outro dia,

antes que a noite venha perturbar

ergamos nossa rebeldia

e quando a morte vier

num outro dia qualquer

pairando como um gavião,

sobre nós,

dá-me a tua mão

quando já nada haja para crer,

resta em mim a credulidade...

ainda assim vou sentir a doçura

da tua mão

na minha mão,

e levarei dela saudade.

Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 01/01/2018
Reeditado em 08/02/2019
Código do texto: T6214277
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