Poema das saudades

POEMA DAS SAUDADES

Tenho saudades

da meninice,

daqueles tempos

passados entre um

brinquedo e uma traquinice.

Tenho saudades

da escola,

das manhãs aritméticas

e das tardes

chutando bola.

Tenho saudades

de correr

sem me cansar,

de tropeçar, levantar,

de rir e de chorar.

E também de gargalhar.

Tenho saudades

daquela avó velhinha

que em cada noite

que caía, me benzia,

aconchegava a roupa e

me beijava a carinha.

Tenho saudades

dos meus

tempos remotos

vividos entre carrinhos,

aviões e pilotos.

Tenho saudades da

professora austera,

que ensinava a gramática

com uma postura

severa.

Tenho saudades

da ditadura opressiva e cinzenta,

em contraponto

à democracia fétida, corrupta,

rasca e bolorenta.

Tenho saudades

das férias que então

eram grandes

passadas entre campo e mar,

dos dias prenhes de sol e

das noites a namorar.

Tenho saudades

daqueles meses de Verão

em que a indolência

do tempo se arrastava

até mais não.

Tenho saudades

das estações definidas,

dos Invernos invernosos

dos Outonos melancólicos

e das Primaveras floridas.

Tenho saudades

dos tempos

que eram de paz

e que os humanos de

hoje são de todo

incapazes.

Tenho saudades

de amar numa praia,

deixando perdidos na areia

a camisa, uns sapatos,

uma saia.

Tenho saudades

do pão quente

pendurado na porta da rua

do jornal que chegava à varanda

e da vizinha que entrevia nua.

Tenho saudades

da inocência

e da ingenuidade,

das descobertas dos tempos

próprias de uma idade.

Tenho saudades

de tantas e tantas coisas,

da infância, da adolescência,

até do dia de ontem,

mas sobretudo tenho

saudades de voltar a ter esperança.